Assim esteve, neste início de mês, a
Vila Céu do Mapiá (VCM), comunidade intencional localizada no coração da
floresta Amazônica, fundada no início da década de 1980, por Padrinho Sebastião
Mota de Melo e seus companheiros.
Dos dias 4 a 10 de setembro, a VCM foi
palco de oficinas, apresentações musicais, reuniões comunitárias e trabalhos
espirituais. O evento Aquecendo os
Tambores foi voltado especialmente para o público jovem local, mas contou
com a participação sempre bem-vinda de moradores das mais diferentes idades,
incluindo representantes de comunidades irmãs, como Fazenda São Sebastião, Praia
e Anajás. Diversidade cultural e troca
de saberes, tudo regado a muita alegria pelos festejos dos 89 anos do Padrinho Manoel
Gregório da Silva (Vô Nel).
A abertura do evento se
deu na manhã do dia 4 de setembro, segunda-feira, com o Mutirão do Padrinho Sebastião. As equipes visitantes se juntaram
aos moradores podendo vivenciar, aprender e contribuir em diversas frentes de
trabalho.
Pintura com tinta de terra, uma das atividades do Mutirão |
Varanda da Casa de Música Madrinha Julia pintada durante mutirão |
EMPREENDER
PARA O MAPIÁ
Ainda no dia 4 de
setembro, à tarde, deu-se início à oficina Empreender
para o Mapiá, facilitada por Felipe Bannitz, coordenador do Instituto de Socioeconomia
Solidária (ISES) e por Felipe Simas, professor do Departamento de Educação da
Universidade Federal de Viçosa e coordenador do Programa AmaGaia.
Visando o fortalecimento da sustentabilidade econômica da Vila Céu do Mapiá, a oficina teve como objetivo mobilizar um grupo local animado em se capacitar e trabalhar na criação de uma agência de apoio a projetos de geração de renda alinhados com os princípios da economia solidária.
Visando o fortalecimento da sustentabilidade econômica da Vila Céu do Mapiá, a oficina teve como objetivo mobilizar um grupo local animado em se capacitar e trabalhar na criação de uma agência de apoio a projetos de geração de renda alinhados com os princípios da economia solidária.
Felipe Simas, professor da Universidade Federal de Viçosa e coordenador do Programa AmaGaia |
A oficina se desenvolveu por meio de três encontros nos quais foram abordados temas como: princípios de uma economia solidária; exemplos de experiências de fortalecimento de economia local de forma sustentável; apreciação coletiva dos desafios e das oportunidades de geração de emprego e renda no Mapiá; identificação de estratégias e ações concretas para fortalecimento da economia solidária na comunidade.
Grupo participante da Oficina Empreender para o Mapiá |
Como continuidade dos trabalhos iniciados na oficina, o grupo local mobilizado, com o apoio da equipe AmaGaia, iniciará um levantamento de dados nos próximos meses visando criar uma rede de empreendimentos sociais solidários.
NA
BATIDA DO REGGAE
O antropólogo e baterista da banda Ponto de Equilíbrio, Lucas Kastrup, coordenou a oficina Na Batida do Reggae, trazendo aos participantes elementos sobre a história da música jamaicana, relacionando seus ritmos a outros da cultura brasileira como o baião, o samba e o maracatu. A oficina, que se desenvolveu em quatro tardes, nos dias 5, 6, 8 e 9 de setembro, contou com a participação especial dos músicos Maurício Bongo, Ras Kadhu, Marcelo Bernardes, Juliana Genuncio e Roberta Cordeiro. A oficina contemplou também aulas práticas de tambor e bateria. O grupo apresentou cânticos Nyahbinghi (música ritual tradicional dos Rastafari), seguindo a batida do coração marcada pelos tambores.
O antropólogo e baterista da banda Ponto de Equilíbrio, Lucas Kastrup, coordenou a oficina Na Batida do Reggae, trazendo aos participantes elementos sobre a história da música jamaicana, relacionando seus ritmos a outros da cultura brasileira como o baião, o samba e o maracatu. A oficina, que se desenvolveu em quatro tardes, nos dias 5, 6, 8 e 9 de setembro, contou com a participação especial dos músicos Maurício Bongo, Ras Kadhu, Marcelo Bernardes, Juliana Genuncio e Roberta Cordeiro. A oficina contemplou também aulas práticas de tambor e bateria. O grupo apresentou cânticos Nyahbinghi (música ritual tradicional dos Rastafari), seguindo a batida do coração marcada pelos tambores.
Ras Kadhu, Maurício Bongo, Lucas Kastrup, Juliana Genuncio e Marcelo Bernardes |
No segundo dia de oficina, Maurício
Bongo comandou atividade de fabricação e reforma de tambores, por meio de um
mutirão de colocação de peles e consertos em geral dos instrumentos locais. No
final da tarde, realizaram uma pequena roda de toques de tambor e bateria, na
qual os participantes puderam experimentar alguns fundamentos transmitidos na
oficina, como a prática de cânticos Nyahbinghi e outros ritmos.
Atividade de construção de instrumentos na oficina Na Batida do Reggae |
No terceiro encontro, deu-se
continuidade à oficina de fabricação de tambores. A prática dos toques ficou
sob o comando de Marcelo Bernardes, que compartilhou os toques tradicionalmente
usados nas giras de umbanda. Marcelo também facilitou o quarto encontro, no
qual abordou a prática de flauta e
violão.
Esta oficina foi oferecida a músicos e não músicos, e com certeza a música e os tambores vibraram e animaram toda a comunidade. Como seguimento, prevê-se ações junto à escola Cruzeiro do Céu para a construção de um projeto pedagógico que permita, a partir do estudo histórico da musicalidade da doutrina, trabalhar conteúdos curriculares de diversas disciplinas.
RITMOS
DOS SERINGAIS
A oficina Ritmos dos Seringais foi facilitada por Alexandre Anselmo com a
participação da banda Uirapuru e de seu Bima e seu Honorato, músicos
tradicionais com mais de 80 anos de idade. Esta oficina é parte de um trabalho
de resgate e fortalecimento do patrimônio cultural a partir da música
desenvolvido em Rio Branco.
Foram dois encontros, nas manhãs dos
dias 8 e 9 de setembro. Através de aulas práticas, os participantes conheceram ritmos
tradicionais dos seringais: samba, choro, lundu e marcha. Também foram passados
os ritmos de Xote, Valsa e Mazurca.
Na primeira parte da oficina foi feita
uma contextualização da música e dos ritmos acreanos, assim como suas
aplicações nos instrumentos. A segunda parte, em conjunto com os mestres da
música popular acreana, funcionou como um ensaio envolvendo os participantes
que se apresentaram no Baile do Seringueiro, encerramento do evento.
MANEJO FLORESTAL
Texto: Julia Christo e Felipe Simas
Seu Bima com Maria Camurça (esq), cujo avô foi amigo nos tempos do Seringal |
O objetivo da oficina Ritmos do Seringal foi o de reunir as gerações pela comunhão da própria cultura de origem. Além de contemplar os idosos, a experiência foi muito positiva especialmente para a juventude local que teve a oportunidade de tocar com músicos de mais de 70 anos de estrada, como é o caso de seu Bima, que coincidentemente foi morador do Mapiá, ainda na época do seringal e de seu Honorato, que além de ayahuasqueiro também nasceu, cresceu e tocou muito nos seringais dos rios Purus e Acre. Destaque também para a presença do músico José Carlos Carioca, cujos irmãos mais velhos foram os primeiros a introduzir os instrumentos nos rituais do Mestre Irineu.
FESTEJOS
DE ANIVERSÁRIO DO PADRINHO NEL
Na noite de 6 de setembro, realizou-se
o hinário “O Justiceiro” em comemoração aos 89 anos do Padrinho Manoel Gregório
da Silva.
Trabalho espiritual realizado durantes os festejos de aniversário do Padrinho Nel |
Ainda como parte dos festejos, no dia 7, um trabalho espiritual na
varanda de sua casa, com a participação dos amigos da comunidade da Praia,
quando foram cantados os hinários do Sr. Damião e do Sinhôzinho, companheiros
de longa data do Padrinho Nel. Importante ressaltar a força e a beleza com que
os músicos e as cantoras da Praia apresentaram estes hinários!
No dia 8 de setembro, realizou-se um trabalho de jovens na “Santa Casa” no qual foram cantados os hinários do Lúcio Mortimer (Instrução) e da Baixinha (Hinário da Fé), ambos lideranças espirituais muito queridas e influentes na espiritualidade dos jovens e de todos os seguidores da Doutrina do Santo Daime.
No dia 8 de setembro, realizou-se um trabalho de jovens na “Santa Casa” no qual foram cantados os hinários do Lúcio Mortimer (Instrução) e da Baixinha (Hinário da Fé), ambos lideranças espirituais muito queridas e influentes na espiritualidade dos jovens e de todos os seguidores da Doutrina do Santo Daime.
MANEJO FLORESTAL
Nesta mesma semana, o Mapiá recebeu a
chegada da equipe do Manejo Florestal Comunitário.
Foram realizados encontros com o grupo de manejadores da comunidade e avaliadas estratégias para a ativação da cadeia produtiva da madeira, incluindo a instalação de uma marcenaria comunitária.
Foram realizados encontros com o grupo de manejadores da comunidade e avaliadas estratégias para a ativação da cadeia produtiva da madeira, incluindo a instalação de uma marcenaria comunitária.
Equipe do Manejo Florestal Comunitário |
A equipe, composta por engenheiros florestais,
botânicos, mateiros e jovens da comunidade, encontra-se acampada na área de
manejo comunitário coletando informações para o seguimento do projeto.
“BAILE
DO SERINGUEIRO”
O encerramento do evento Aquecendo os Tambores aconteceu na
noite do dia 9 de setembro, na praça da Vila Céu do Mapiá, numa animada
celebração musical.
Baile do Seringueiro e show de reggae com a participação dos músicos locais |
A primeira apresentação ficou por
conta da banda Uirapuru, no animadíssimo “Baile do Seringueiro”. Em seguida, foi
a vez dos músicos locais da comunidade se apresentarem: Moisés Souza (baixo),
Damião Nascimento (vocal), Guaracy Nascimento (guitarra), crianças e jovens
(percussão), com a participação especial de Marcelo Bernardes (sopro) e Maurício
Bongo (bateria). Essa mesma turma se juntou ao músico Ras Kadhu para
apresentação das músicas da banda JAH I RAS, liderada por ele, encerrando assim
a noite em um animadíssimo show de reggae!
Moradores e visitantes marcam presença no show de encerramento do evento |
O evento Aquecendo os Tambores veio promover a mobilização comunitária,
animar e engajar os jovens locais no fortalecimento do Céu do Mapiá. Representou
o esforço coletivo de moradores locais e de diversos membros da grande
comunidade do Padrinho Sebastião espalhada pelo mundo. Entre os educadores e
artistas visitantes estavam dirigentes e representantes das igrejas Flor da Montanha
(Nova Friburgo-RJ), Luz do Firmamento (Viçosa-MG), Nova Flor (Niterói-RJ) e Céu
de Santa Maria de Sião (Itapecerica – SP). Todas as atividades e diversos momentos foram
registrados em áudio, vídeo e imagens pela equipe formada pelos profissionais
Iberê Perissé e Lucas Gandini que também integraram a comitiva de artistas,
educadores e técnicos. Estes registros serão usados para fortalecer a VCM
através de estratégias de comunicação externa e interna, com destaque para a
formação de uma equipe local de produção audiovisual.
VEM
AÍ, VEM...
Através da união dos diversos saberes
e fazeres da grande comunidade daimista, espera-se seguir neste ritmo de
atividades de fortalecimento da sustentabilidade comunitária do Céu do Mapiá, rumo
ao festival e comemoração dos 70 anos do comandante Padrinho Valdete, importante
liderança da Doutrina do Santo Daime e um dos fundadores da VCM.
Vila Céu do Mapiá |
Também como parte deste processo de
fortalecimento comunitário, em janeiro de 2018, vem aí mais um encontro voltado
para a formação e engajamento dos jovens e de todas e de todos que se considerar ser Herdeiro do Padrinho
Sebastião.
Texto: Julia Christo e Felipe Simas
Fotos: Rafael Gomes, Pedro Christo, Felipe Simas, Ras Kadhu
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